Venture Capital no Brasil: Passado, Presente e Futuro

O que esperar para os próximos 5 anos?

Olá! Bem-vindo(a) a 1ªedição de Descobrindo o Venture Capital!

Pam e Gi aqui 😄 

Estamos muito felizes em te ter por aqui e animadas por lançar esta newsletter!

Nas últimas semanas trabalhamos intensamente para por esta primeira edição no ar 🚀🚀

A Gi esteve ocupada com os preparativos do seu casamento com o Bruno, que será no próximo sábado 😄 💍 👰🏽 👨🏻‍⚖️

(a Pam está pronta para comemorar ahaha 🥂🍾)

Venture Capital no Brasil: Passado, Presente e Futuro

O que esperar para os próximos 5 anos?

Nos últimos 10 anos, e desde 2019 em especial, o mercado de Venture Capital no Brasil passou por um período de crescimento e amadurecimento significativos.

Nós fizemos parte desse ciclo de desenvolvimento (sobrevivendo aos últimos 2 anos de VC winter), por isso nesta primeira edição do Descobrindo o Venture Capital, trouxemos para você um resumo da história do VC no Brasil, compartilhando também um pouco da nossa visão do mercado para os próximos anos.

Esta edição está dividida em 5 etapas: (i) a estrada tortuosa dos Anos 70-90; (ii) temos um problema, e agora?; (iii) nascem os primeiros unicórnios; (iv) tempos de Corona; e (v) blockchain & AI dominam o mundo.

A estrada tortuosa de 1970-1990

Para entender onde estamos, vamos voltar ao passado e acompanhar um pouco do que nos trouxe até aqui.

Para muitos, os anos 70 foram uma década chave para que a indústria de PE e VC surgisse no Brasil, isto pois, contaram com iniciativas inéditas, tanto do lado público quanto do lado privado1 .

Em 1974, o BNDES financiou companhias destinadas a capitalizar outras empresas, com foco nas seguintes áreas: (a) empresas produtoras de insumos básicos; (b) empresas produtoras de bens industrializados; e, (c) outras empresas privadas dos demais setores produtivos.

Poucos anos depois, a FINEP lançou o programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Empresa Nacional, com o objetivo de fomentar o crescimento tecnológico no Brasil.

Infelizmente, ambas as experiências foram de curta duração e não alcançaram o sucesso esperado...

Já do lado da iniciativa privada, os primeiros projetos de PE e VC foram melhor sucedidos (nenhuma surpresa que o nosso governo não é um bom alocador de capital, não é mesmo?).

O Unibanco e o Banco Paribas uniram forças em uma joint venture, a BrasilPar, considerada uma das primeiras organizações de PE no Brasil e que existe até os dias de hoje.

Outra iniciativa bem-sucedida do setor privado foi a CRP Companhia de Participações, que pode ser considerada a primeira firma de VC do Brasil, atuante desde 1981 na região Sul do país.

Durante os anos 1980 e meados dos anos 1990, outros esforços foram de curta duração, devido às dificuldades enfrentadas pelo nosso país, como a hiperinflação, um ambiente jurídico/político pouco favorável e deficiências no setor industrial.

Mesmo assim, tivemos alguns desenvolvimentos essenciais nos anos 1990:

  • A solidificação do novo governo democrático;

  • Permissão para investidores estrangeiros para investirem na BOVESPA; 

  • A privatização de mais de 50 empresas públicas, ligadas aos setores da siderurgia, fertilizantes, petroquímica, energia, transporte e telecomunicações;

  • CVM cria o Fundo de Investimentos em Empresas Emergentes (FMIEE); e

  • Lançamento do fundo de PE bilionário CVC/Opportunity, joint venture do Citibank com o Opportunity, com foco nas privatizações das estatais.

Temos  um problema, e agora?

Apesar dos avanços nos anos 90, a atividade geral de VC permaneceu limitada.

Enquanto nos EUA a indústria de VC passou por um dos seus principais processos de expansão com o boom das empresas de internet (e a subsequente bolha dos anos 2000), de 1999 a 2004, apenas 0,06% do PIB do Brasil foi destinado a investimentos em VC/PE, em comparação com 0,6% EUA.

Diante desse cenário, em 2000, a FINEP, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), lançou o projeto INOVAR para lidar com preocupações de que empreendedores estavam sendo desencorajados por restrições de capital e uma indústria de VC subdesenvolvida.

O projeto INOVAR realizou um amplo diagnóstico do mercado de inovação no Brasil e identificou os requisitos necessários para que o VC prosperasse no Brasil:

Com os elementos acima em mente, as principais ações tomadas no âmbito do projeto INOVAR foram:
  • Desenvolvimento do site venturecapital.com.br, o primeiro portal sobre capital de risco no Brasil;

  • Criação de uma incubadora de fundos de VC, em conjunto com o SEBRAE e outras instituições; 

  • Fundação da ABVCAP; e

  • Organização dos Venture Forums (um mix de shark tank com uma feira de negócios).

Em paralelo, a CVM regulamentou os FIPs, o que levou ao surgimento de diversos fundos de VC, incluindo a Monashees Capital, que se tornou uma grande referência para todos que trabalham com inovação e venture capital.

Nascem os primeiros unicórnios

Todo o histórico dos anos anteriores fez com que a década de 2010 se tornasse o berço da grande maioria das startups de sucesso notável, atraindo investimentos substanciais e, em alguns casos, viu essas empresas alcançarem o status de unicórnio.

Entre elas, destacam-se empresas que se tornaram pilares na nossa sociedade digital, como o Nubank (o maior de todos), a 99 (a primeirona), o Ebanx, Gympass, Ifood, Loft, QuintoAndar, MadeiraMadeira, entre outras.

Nos anos de 2010, também vimos algumas saídas impressionantes que impulsionaram os ânimos dos empreendedores nacionais, como a venda da Beleza na Web para o Boticário, o IPO da PagSeguro e da Stone, até a aquisição da 99 ao final da década, pela chinesa Didi Chuxing.

O Brasil se tornou o verdadeiro celeiro de startups da Latam.

O que aprendemos com o passado?

É interessante notar o quanto o projeto foi bem-sucedido, e que hoje em dia pouco relacionamos o setor de VC a uma iniciativa pública. E essa foi a intenção desde o início: o VC não deveria depender da FINEP – a evolução significa que a iniciativa privada tem as condições necessárias para assumir o controle.

A lição mais valiosa que tiramos desta análise histórica é de que o foco do Estado, quando falamos em inovação, deveria estar no fomento do mercado, na desburocratização, em regulações/supervisões ponderadas, e em legislações ativas e pragmáticas. 

Na nossa opinião, as experiências dos anos 70-90 nos ensinam que o papel do Estado no fomento da tecnologia e inovação não deveria ser de alocador de capital direto em empresas privadas, mas sim de formador de políticas públicas que tornem o nosso ecossistema mais estável e atraente para investimentos do capital privado, em especial o capital privado interno, tal como foi com o projeto INOVAR.

Já o crescimento dos anos 2010 nos ensinou que o Brasil é um país com potencial enorme potencial de digitalização, com grande adesão dos serviços de tecnologia por partes dos usuários.

Anos 70-80

Anos 90-2000

Anos 2000 - 2010

Início do PE e VC no 🇧🇷

Mercado de VC estagnado ⛔️

Crescimento do VC 💰

Não rolou muito bem 😢

Algumas chaves viraram 🔑

Várias startups de sucesso nasceram 🦄

Alta participação do Governo 🏛️

Média participação do Governo - bola dentro c/ o INOVAR 🙂

Participação do Governo diminui 👏

Tempos de Corona 😷😷

O passado mais recente foi (e o presente segue sendo), sem dúvida, uma montanha russa para o mercado financeiro!

Com discrepantes altos e baixos nos anos de 2020 a 2023 que deixaram muito investidor de cabelo em pé.

Para se ter uma ideia, essa montanha russa representou uma redução de transações tão expressiva, que o último trimestre de 2023 registrou o menor número de transações de venture capital em sete anos, mas talvez você já saiba disso, afinal de contas, passamos um ano todinho lendo milhares de artigos sobre o “inverno das startups”.

Pois bem, com essa desaceleração, e considerando que o mercado reage a esses estímulos, o que encontramos foi um 2023 com muita dificuldade de desenvolver deals em estágios intermediários e avançados.

Sendo assim os investidores focaram mais em investimentos em empresas mais novas no mercado (early stage), e com valuations menores, o que representou 2/3 de todas as transações do ano.

Na América Latina, o volume de financiamento de VC fechou o ano em US$ 3,3 bilhões, uma queda significativa em comparação com os US$ 7,5 bilhões de 2022 e uma queda absurda dos US$17,9 bilhões de 2021.

Em 2023, as transações em empresas no estágio inicial dominaram 83% das rodadas de investimento.

E, apesar de um cenário desafiador, o Brasil registrou 455 negócios e um volume aportado de US$ 1,9 bilhão em startups, representando 61,2% dos investimentos na região latino-americana.

Assim vimos que o ecossistema de startups no Brasil tem vivenciado uma trajetória de crescimento e maturação notáveis, acompanhado por um aumento significativo nos investimentos de venture capital, refletindo o potencial das startups brasileiras.

Nós ainda vimos um:

Forte ingresso de Novos Investidores
  • Uma tendência desde antes da pandemia, que se consolidou nos últimos 4 anos, é o forte interesse de investidores de VC estrangeiros no potencial do Brasil e sua familiarização com nosso ambiente de negócios.

  • Diversos fundos criaram novas teses tendo como alvo a alocação de capital em startups latino-americanas, em especial as nossas brasileiras. E não foram só os VCs que vieram para cá.

  • Os LPs seguiram a mesma onda e estão notando os nossos gestores como opções para conseguirem retornos atraentes.

  • Tudo isso fomentou o surgimento de novos fundos de VC nacionais, incluindo os micro-VCs, e abriu a porta para que grandes corporações apostassem no Brasil para suas estratégias de CVC.

Em resumo, nos tempos de covid e pós-covid, o ecossistema de startups no Brasil demonstrou uma trajetória de crescimento robusto, apoiada por um aumento significativo nos investimentos de venture capital.

A consolidação de setores-chave, a capacidade de adaptação diante de desafios e o aumento da confiança dos investidores estrangeiros no nosso mercado de VC, sinalizam um futuro promissor para as startups brasileiras.

Sabendo disso você pode estar se perguntando:

O que aprendemos com o presente

Até quem financia a inovação precisa se reinventar.


Não adianta apenas capitalizar empresas inovadoras, a indústria do VC precisa também repensar suas práticas e tradições, adaptando-as ao novo mundo que surge a cada grande evento global e mudança cultural.

Blockchain & IA dominam o mundo! 

O ano de 2024 já iniciou o segundo trimestre e o cenário não mudou quase nada desde o inverno do ano passado.

Mas calma, dizem que mar bravo é que faz bons marinheiros, por isso a esperança se renova a cada movimento do mercado. 

Com a expectativa de mudanças nos indicadores macroeconômicos dos Estados Unidos e do Brasil - especialmente a queda nas taxas de juros e a estabilização da inflação - o palco está sendo montado para um aumento nos investimentos em startups no Brasil.

No entanto, não espere um retorno aos dias de glória de 2021, quando os números atingiram alturas estratosféricas.

Até novembro de 2023, as startups de serviços financeiros arrecadaram impressionantes US$ 962 milhões (R$ 4,64 bilhões), dominando o cenário latino-americano com um total de US$ 2,88 bilhões (R$ 13,89 bilhões) em captações. 

Os bancos não ficaram para trás, com 39% deles investindo em startups financeiras através de corporate venture capital em meados de agosto de 2023.

Graças à inovação impulsionada pelo Banco Central, com iniciativas como Open Finance, Pix e Drex, o Brasil agora possui um ecossistema de fintechs bem mais robusto e maduro.

Principais setores de 2024 em diante.

  1. Como o Banco Central vem reformulando as estruturas regulatórias e derrubando algumas barreiras de entrada apostamos no Open Finance como um setor vibrante, porque a nova regulação de garantias e a forte entrada da regulação das duplicatas estruturais beneficiarão o setor de supply chain.

    Para você ter uma ideia, em 2023, o setor de fintech liderou o número de rodadas de investimento, com 136 negociações, e também o volume de recursos investidos, alcançando US$ 1 bilhão.

  2. Ainda, falando de BCB, outro setor que amamos é o de ativos digitais, baseados em blockchains (redes descentralizadas), como uma nova forma de registro e transmissão de propriedade, bem como novas fontes de retenção de valor.

    A tecnologia blockchain veio para ficar e temos certeza de que continuaremos vendo startups incríveis neste setor.

  3. Não podemos deixar de trazer aqui os setores de saúde e ESG no próximo ano. Com o setor de saúde passando por uma forte digitalização e o mercado ESG extremamente fragmentado prestes a ver uma forte regulamentação, estamos falando de um mercado de trilhões de dólares.

    Uhulll!

  4. Por fim, a inteligência artificial, a onda do momento no campo da inovação, deve continuar no centro das discussões sobre investimento de risco em 2024 e seguintes.

    No Brasil, espera-se que startups de diversos setores se voltem mais para a IA utilizando a tecnologia em processos ou no desenvolvimento de novos produtos.

O que esperamos do VC para os próximos 5 anos?

Já falamos em quais setores apostaremos nossas fichas nos próximos anos. 💰💸

Mas, é importante que você saiba também que esperamos algumas mudanças (e consolidação de tendências) para a indústria do VC em si:

CVCs se tornam players cada vez maiores.

  • O volume de investimentos em CVC em 2021 foi de US$ 169,3 bilhões, representando um aumento de 131% em relação ao volume de 2020 e sendo 10 vezes maior que o pico recorde anterior estabelecido pela terceira onda no ano 2000.

  • O número de operações de CVC também teve um salto expressivo, indo de 543 no ano 2000 para 4.661 em 2021, o que representa um crescimento de 858%.

  • Em 2022, 13 companhias listadas na B3 lançaram iniciativas de financiamento a negócios em estágios iniciais, enquanto oito fizeram o mesmo no ano anterior.

  • O mercado de CVC captou R$ 3 bilhões em 2022.

  • Do nosso lado, temos trabalhado em cada vez mais deals com players de CVC envolvidos, pelo menos 70% das transações que fizemos durante o VC winter foi ao lado de CVCs.

  • Os CVCs mostraram grande resiliência e apetite em 2023, assim, apostamos que esta tendência se intensificará nos próximos anos.

Pessoas físicas investem em VC.

  • A bolsa de valores brasileira (B3) registrou um número recorde de CPFs distintos de investidores pessoas físicas em plataformas de renda fixa e variável, atingindo 17,2 milhões de contas em 2022, o que representa uma alta de 31,3% em comparação ao ano anterior.

  • O número de investidores pessoas físicas cresceu 37,1%, de 3,2 milhões em 2021 para 4,4 milhões em 2022.

  • Uma pesquisa da Anbima mostrou que o percentual de brasileiros investindo em produtos financeiros passou de 31% da população em 2021 para 36% em 2022, totalizando aproximadamente 60 milhões de investidores no país.

  • O interesse das PFs por tema de PE e VC também se intensificou, diversos sites especializados e influenciadores de investimentos nos mostram que o brasileiro está cada vez mais acostumado com o tema.

Número de novos gestores e firmas de VC aumenta.

  • Na nossa visão, o crescimento no número de CPFs distintos de investidores na B3, a queda dos juros e o maior apetite para risco dos investidores nacionais, fomentam um ambiente propício para o surgimento de novos gestores e firmas de VC. 

Portanto, prepare-se para anos emocionantes pela frente, repleto de inovação e oportunidades no mundo das startups e do Venture Capital!

E você, quais são suas perspectivas sobre o VC para os próximos anos?

Nos diga nos comentários!

TL;DR
  1.  nos últimos 10 anos, o mercado de venture capital no Brasil tem sido caracterizado por um crescimento substancial;

  2. os investidores e empreendedores estão mais sofisticados, e houve uma ampliação significativa das oportunidades de investimento em startups promissoras;

  3. um cenário promissor está sendo montado e sugere um futuro promissor para o ecossistema de startups brasileiro e para o mercado de venture capital como um todo;

  4. os setores ligados ao Open Finance, ativos digitais, saúde, ESG e IA são a bola da vez no mundo do venture capital.

Bibliografia:

  1. LEONE,S. O papel e as contribuições da indústria de Venture Capital no Brasil. Economia Ensaios. 33ed. Uberlândia.

  2. PAVANI, C. O capital de risco no Brasil: conceito, evolução, perspectiva. Rio de Janeiro: E-papers, 2003.

  3. https://www.bain.com/contentassets/2bff0371e2f04ee1bbf1a22d74721c2c/

  4. https://aceventures.com.br/venture-capital-investimentos-brasil/

  5. mittechreview.com.br/surfando-a-5a-onda-de-corporate-venture-capital-cvc/

  6. mba.americaeconomia.com/sites/mba.americaeconomia.com/files/finep_brasil.pdf

Recomendações

Para você continuar "descobrindo“ o venture capital enquanto preparamos a próxima edição!

🤓 😎 😁

📚 1 recomendação da Pam para a sua semana: Zero to One (Peter Thiel)

📚 O que a Gi está lendo: Da Ideia ao Bilhão: Estratégias, Conflitos e Aprendizados das Primeiras Start-ups Unicórnio do Brasil

📽️O que a Gi recomenda assistir: Banking on Bitcoin

💻 Um app que a Pam indica: https://visible.vc/

Desejamos uma super semana para você! Vamos em frente 💥💥 

Até a próxima! 👋🏻👋🏻

Abraços,

Pam e Gi

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